terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Fantoches e Outros Contos


Por Marlo Renan
de Fortaleza-CE/Brasil

Hoje pela tarde eu finalizei a leitura da antologia Fantoches e Outros Contos (1972), uma coletânea peculiar de contos do brasileiro Erico Verissimo. É peculiar porque, convidado a reler seus textos de principiante para celebrar uma edição comemorativa do livro, o Erico de 66 anos de idade escreveu, à margem dos contos, pequenas e hilárias observações sobre o Erico contista da década de 30.
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Sinopse: Reconhecido como um dos clássicos brasileiros do século XX, Erico Verissimo estreou na literatura em 1932 com o volume de contos ‘Fantoches’. Décadas depois, fez apontamentos manuscritos e ilustrações à margem do texto, para a edição comemorativa do quadragésimo aniversário da publicação do livro. Nesses apontamentos, o escritor consagrado observa as narrativas do jovem principiante com olhar exigente, mas também com humor.
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Embriagado. Essa é a palavra que define muito bem o estado de espírito com que saio de uma leitura de Erico Verissimo. O escritor gaúcho consegue me envolver (tanto com as suas estórias quanto com o seu estilo de escrita) de uma maneira tão forte, tão plena, que eu acho difícil encontrar um outro escritor com que possa me identificar tão bem.
Considero Fantoches e Outros Contos simplesmente indispensável para os fãs de Erico. Contudo, não o aconselho aos que estão começando a ler a obra dele agora. Para ler a primeira parte de Fantoches e Outros Contos, acho que o leitor já deve estar adaptado há muito tempo ao universo do autor.
Essa primeira parte do livro (“Fantoches”) tem um valor evidentemente mais histórico que literário, embora lá haja algumas histórias interessantes. Encontramos nessas primeiras páginas um Erico ainda imerso em clichês, mas que procura, a todo custo, livrar-se deles, coisa que consegue com sucesso anos mais tarde. Achei muito interessantes os textos em que, no desenrolar da trama, as personagens se rebelam contra o autor da história. O ápice deste tipo de enredo está na peça “Criador versus Criatura”.
Aliás, uma coisa interessante de se notar é a profusão de textos escritos em forma de peça, forma esta com que o autor nunca simpatizou de todo. No mais, em resumo, “Fantoches” é uma boa experiência que fez com que Erico alçasse vôos mais longos, anos mais tarde.
A segunda parte do livro (“Os Outros Contos”) mostra-nos um Erico Verissimo muito mais maduro do que no início, já totalmente dono de sua escrita e suas idéias. Esses contos eu já aconselho aos que estão começando a ler a obra do autor agora. Lá encontramos histórias muito sensíveis, humanas, poéticas e reflexivas. Adorei particularmente do conto “A Ponte”, cuja filosofia é bem parecida com aquela que cultivo desde pequeno.
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Abaixo, transcrevo um trecho que retrata essa filosofia.
“Não quero que o senhor imagine que sou um papa-hóstia – sorriu o rapaz – e que acredite, como mamãe, num Deus barbudo que distribui prêmios e castigos… Minha religião tem muito mais a ver com a Arte do que com a Igreja Católica. Acredito numa Inteligência Superior, numa força luminosa que governa o Universo… Pode ser meio obscuro, mas é o que penso ou, melhor, o que sinto. Creio na existência duma Entidade cuja definição e explicação escapam à lógica humana de causa e efeito… O que quero deixar claro é que não aceito a gratuidade da vida. Se aceitasse, acho que ficaria louco… ou me matava… ou ambas as coisas. O absurdo da vida é apenas aparente. Há nas pessoas e nas coisas uma beleza e uma verdade imanentes.” (p. 289)

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